Trovadores(as) de Recife do passado



Tentando resgatar um pouco da história da Trova em Recife, postarei aqui algumas Trovas coletadas na internet de pessoas que pertenceram, ou que possivelmente pertenceram à Seção da UBT em Recife, em vários sites de Trovas tais como "Florilégio de Trovas" ou o "Falando de Trova", ou em livros como "A Trova no Brasil" ou "Trovadores do Brasil" de Aparício Fernandes.

Para iniciar, nada mais justo do que apresentar algumas Trovas do primeiro Presidente da UBT Recife, Fernando Burlamaqui. Apresentarei junto com as Trovas, uma breve biografia dos autores, na medida do possível. Pensava que ele tinha sido o primeiro e único Presidente mas, no site Usina de Letras descobri que houve uma outra Presidente, provavelmente depois dele, e que também, segundo o site citado, fundou a UBT Recife, sendo sua primeira Presidente. Não sei ainda o período mas, constam dois Primeiros Presidentes da UBT Recife -  Fernando Burlamaqui e Valdeci Camelo. Esta última era Presidente da UBT Recife em 1982, quando compareceu em um Congresso de Trovadores em Santa Catarina. Aparentemente houve um hiato, isto é, um período de inatividade da UBT Recife, que foi fundada duas  vezes, com sua extinção nos dois casos.

FERNANDO BURLAMAQUI  nasceu em Recife, em 11 de outubro de 1898, filho de Manoel do Nascimento C. Burlamaqui e Adelaide Barbalho Burlamaqui. Foi morador do ap 101, na Av. Conselheiro Aguiar, 1350, Boa Viagem, em Recife e também da Rua Castro Leão, 123, bairro Madalena. Lançou vários livros, entre eles, "Trovas e Trovadores", em 1974.



Trovas de
Fernando Burlamaqui

1
A vida é divina graça
mas para honrá-la é mister
não o mal que não se faça,
mas o bem que se fizer.

2
Contemplar, risonha, a face
de uma criança contente,
é como se o céu cantasse
para a ternura da gente.
(Venc. Juiz de Fora 1962)
Que o mundo melhor se faça,
ante o símbolo profundo,
do mar que, eterno, entrelaça
os mil caminhos do mundo.

4
Olhai, mulheres mesquinhas,
este exemplo, esta lição:
- Um galo e vinte galinhas
na mais perfeita união!
5
Da vida, em luta renhida,
não há quem sonhos não traga.
No entanto, a chama da Vida,
um sopro, às vezes, apaga.

6
Liberdade! A ti, num preito,
o teu nome exalto e louvo.
- És o mais nobre direito
entre os direitos de um povo!
7
Bondade - virtude ou crença -
- é como a mangueira antiga,
que dá sua sombra amiga,
sem esperar recompensa.

8
O amor, tal como eu o vejo,
- alma e carne, espinho e flor -
há de ser mais que Desejo,
para, então, ser mesmo Amor!
9
Coração! - joia bem cara,
a vibrar dentro do peito...
Relógio que quando para
não há doutor que dê jeito!..
.

10
A mulher que é graça e encanto,
estranho poder revela:
- parece fraca, entretanto,
gira o mundo em torno dela...
11
Acho uma triste ironia
essa que o povo te faz:
- chamar de fácil, Maria,
a tua vida sem paz.

12
Da Paróquia o movimento
mostra estranhos resultados:
- um ou outro casamento,
porém muitos batizados...

Fonte – Falando de Trova


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BRANDINA ROCHA LIMA



Trovas de
Brandina Lima
1
Alegria… alma embalada
de sonhos, de madrigais…
Tristeza… fim de jornada,
sem sonhos… sem nada mais…


2
Alegria… dom divino
que nasce dentro do ser,
quando um sonho pequenino
tem vontade de crescer…

3
Da Manjedoura ao Calvário,
o mundo encheu-se de luz,
no divino itinerário
percorrido por Jesus.


4
Dar um pouco de carinho
ao carente – nosso irmão –
no seu triste descaminho,
vale mais que dar um pão.

5
É penosa - e não me iludo!
- essa exaustiva jornada:
- ontem, em busca de TUDO...
- hoje, a caminho do NADA.


6
Fique alerta, coração,
não deixe o sonho passar…
pois, todo sonho é ilusão:
– jamais vem para ficar!

7
Foste aurora em minha vida,
meu sol de felicidade…
Hoje, és estrela perdida
no céu de minha saudade…


8
Fui sempre um pobre Palhaço
no Circo do meu viver,
rindo do próprio fracasso,
tentando a dor esconder…

9
Hoje, que dias tristonhos
te assaltam – triste e sozinho -
voltaste em busca dos sonhos
que deixaste no caminho…


10
Num dolente fim de tarde,
junto as mãos… e numa prece,
aconchego-me, covarde,
na saudade que me aquece…

11
Olhando o sol escaldante,
sertanejos, lá se vão...
No rosto do retirante,
há mais água que no chão!
(2º lugar Belém 1996)


12
O Martírio da Paixão
ao consumar-se na Cruz,
legou um Mundo Cristão
e a Terra cheia de Luz…

13
O Sonho é qual a fumaça
que se expande ao nosso olhar.
É belo, enquanto não passa,
mas, desaparece no ar…


14
Os teus penachos dourados,
Canavial… sempre ao léu…
lembram braços levantados
pedindo chuvas ao céu!

15
Quanto tempo estive… quanto!
fingindo que te esqueci…
quase que sequei meu pranto,
de tanto chorar por ti…


16
Reguei de noite e de dia,
com o orvalho do meu pranto,
a sementeira vazia
de sonho… E estéril de encanto!

17
São dois padrões de grandeza,
dois infinitos no mundo:
– O Céu: encanto e beleza…
– O Mar: mistério profundo…


18
Se a chuva desce lá fora
e corre pela calçada,
é pranto do céu… que chora
por quem não crê em mais nada…

19
Se algum dia uma saudade
maltratar teu coração,
volta! Que a felicidade
vai-te aguardar no portão…


20
Sem saber que havia escolhos
nesta vida, eu submergi
no lago azul de teus olhos
e nunca mais emergi…

21
Toda vez que você passa,
fingindo que não me vê,
meu coração descompassa
e corre atrás de você…

22
Uma cadeira vazia
fica perto da janela:
- a meu lado, todo dia,
a saudade senta nela.


Fonte – Blog Florilégio de trovas



BRANDINA ROCHA LIMA: nascida em Recife, a 03 de janeiro de 1916, residia em Moreno/PE. Foi jornalista,  professora, escritora e poetisa, com méritos reconhecidos em soneto. Faleceu em 15 de março de 1999. Deixou vários livros publicados.   
1

Hoje, sozinha, revejo
quando me ponho a cismar:
- tudo o que foi meu desejo,
em desejo terminar.



Fonte – Falando de Trova


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     RICARDINA YONE  (alcunha literária da poetisa/escritora Ricardina Marques da Silva), nasceu em Recife, Pernambuco, no dia 23 de fevereiro, filha de José Marques da Silva e Áurea M. da Silva. Professora universitária em Economia Política, formada em Direito. Entre os seus primeiros livros estão "Eterna Ironia" (contos) e  "Cerejeiras em Flor". Presidente da Sociedade Brasileira de Filosofia/RJ, Secretária Geral da Academia Federal de Letras, Ciências e Artes, Secretária da Academia Brasileira de Literatura/RJ, professora universitária em Economia Política, formada em Direito, com especialização em Direitos Políticos e Civis da Mulher Brasileira. Autora de oito livros consagrados pelos críticos literários do estado do Rio de Janeiro.

Fonte – Falando de Trova


RICARDINA YONE






Trovas de
Ricardina Yone

1
Adeus! Palavra inclemente!
Ninguém pode definir...
Lembra a saudade presente,
na hora de despedir.


2
A trova, tão pequenina.
essência da poesia,
traz a mensagem divina
da própria filosofia.

3
A vida é um segredo mudo,
em barro e pó transformada.
- É o desejo de ser tudo...
e a agonia de ser nada!


4
A vida tem tal crueza,
que a alegria de viver
está na doce certeza
de um dia ter que morrer.

5
Bendigo a Deus e à Verdade.
No mundo tudo eu bendigo...
Só não bendigo a Saudade
que tu deixaste comigo!


6
Colhendo divinos pomos,
hoje eu digo de uma vez:
- De dois seres que ontem fomos,
amanhã seremos três...

7
Deixarei estrofes tantas,
tantos versos, tantas trovas,
que ficarão como as plantas:
– germinando em folhas novas.


8
Dor. Prazer. Queixa e bondade,
tudo passa, tudo cansa...
Somente fica a Saudade
iluminando a Lembrança.

9
Felicidade é colmeia
que se quer e não se alcança.
É um castelinho de areia,
feito por mão de criança.


10
Há duas coisas na vida
que nos deixam descontentes:
- Uma pessoa fingida...
E a língua dos maldizentes!

11
Há uma forma literária
que aqui e ali se renova.
É singela e multifária,
e nós chamamos de Trova.


12
Hoje é o terno do amanhã
que ontem nos preocupou.
O passado é o do Futuro
que o Presente transformou.

13
Mãe! Divina criatura,
razão do nosso viver:
– Mãe! Poema de Ternura,
que só Deus pode escrever!


14
Neste momento é que vejo,
como é que o amor se insinua.
- Saudade é ânsia, desejo.
da eterna presença tua.

15
Por nosso amor me intimido.
e vivo a te intimidar,
"Tu sofres porque eu duvido,
e eu sofro por duvidar".


16
Procede bem. De tal forma
que, pelos gestos sensatos,
coloque seus inimigos
debaixo dos seus sapatos.

17
Quando velhinhos, risonhos,
nós dois, em cismares francos,
veremos bailar os sonhos,
nos nossos cabelos brancos.


18
Saudade é a presença eterna
de alguém que está bem distante.
Quanto mais longe mais terna,
quanto mais terna - constante.

19
Saudade fonte da vida,
quando se vive de amor.
É nostalgia querida,
vivendo dentro da dor.


20
Só duas coisas receio
por este mundo de Deus;
de amigos falsos – o enleio,
de bons amigos - o adeus!...

21
Tenho na vida um temor;
ficarmos nós sem carinho,
- nossas almas sem amor,
seriam aves sem ninho.


22
Um inimigo constante
serve para estimular.
Desperta em nós o gigante.
que não queria acordar.

23
Vontade nós todos temos,
de glórias mil conquistar.
Lutemos, sim! Mas, deixemos,
a Estima - em nosso lugar!




Fonte  - Blog Florilégio de trovas

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EVANGELINA MAIA CAVALCANTE
Uma das fundadoras UBT Recife




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GERALDO  ALBUQUERQUE  LYRA

Geraldo de Albuquerque Lyra - GERALDO LYRA nas lides literárias e na intimidade, brasileiro, solteiro, maior (lembrou aquele baião: "Eu sou eu, brasileiro, solteiro, maior..."), nasceu em 02-10-1932, na Maternidade do Derby - Recife - PE, tendo como padrinhos de batismo Dr. Oscar Cabral Vasconcellos e Yolanda Terraresi. Filho de Severino de Albuquerque Lyra (poeta) e Cristina Mota Lyra (de prendas domésticas), ambos já falecidos - ele nascido em Timbaúba-PE e ela em Vicência-PE.
É membro correspondente da Academia de Poesia Raul de Leoni - Petrópolis-RJ e da Academia Bonjesuense de Letras - Bom Jesus de Itabapoana-RJ. Já parcicipou da Casa do Poeta, de São Paulo-SP, quando publicava seus trabalhos no jornal O FANAL, daquela Entidade.

E foi membro, também, da União Brasileira de Trovadores-UBT - Recife-PE, na administração da sua fundadora e primeira presidente, a saudosa poetisa Valdeci Camelo, a quem substituía , nos seus impedimentos, por delegação da mesma, desde quando a nossa UBT se reunia no Colégio Pan-Americano, na rua de São Miguel, no bairro de Afogados, até quando se transferiu para a rua da União - Casa de Manuel Bandeira. Numa dessas substituições, promoveu o Concurso de Trovas com o tema Jangada, cujas trovas vencedoras formaram a coletânea "As Mais Belas Trovas sobre JANGADA" - João SCORTECCI Editora - São Paulo - 1994. Distribuiu cópias xerográficas do Decalógo de Metrificação de Luiz Otávio, entre os frequentadores da UBT e, por algum tempo, dirigiu o alternativo MAURICÉIA, das irmãs Rabello. Inclusive foi quem deu o nome ao concurso de trovas por elas provido - tema coqueiro - escolhido em votação no Colégio Pan-Americano. Isto é, fez alguma coisa pela UBT local! 

Tem vários poemas classificados em concursos, em que destaca o 1. lugar no 2º Concurso Conde de Irajá, da Academia Irajaense de Letras e Artes - AILA-Rio-RJ-1994; 2º lugar e Menção Honrosa, no XXI Concurso de Poesias do Centro de Estudos e Atividades Artísticas - CEATA - Rio-RJ - 1990, etc.

Livros Publicados:

1 - DEVANEIOS - Campina Grande - l957 - apresentação de Evangelina Maia Cavalcanti,do Clube de Poesia do Recife.
2 - Sonetos e Trovas - Companhia Editora de Perambuco - CEPE - 1992
3 -SUSPIROS (trovas)- Oficinas gráficas da Fundação Casa da Criança de Olinda - 1991
4 - CANTARES, idem,idem
5 - Trovadorando com Amor - Apresentação de Helvécio Barros - ARTEGRAFI LTDA. - Recife - 1988
6 - Sonetos Alexandrinos (coletânea) - Gráfica da Casa da Criança de Olinda - 1990
Fonte - Site Usina de Letras


Trovas
1
Abrindo o leque da vela
vai pelo mar a jangada,
como se fosse a mais bela
das aves da madrugada!


2
Mistério - felicidade,
que somente Deus concebe:
- Se parte, deixa saudade!
- Se fica, não se percebe!

3
A trova há de ser, na certa,
o envelope transparente
de pequena carta-aberta
dos sentimentos da gente.


4
Motorista da ilusão,
pelas estradas da vida
vou deixando o coração,
no adeus de cada partida.

5
Tambaú, uma aquarela,
mundo de cores, feérico,
como se fosse a mais bela
pintura de Pedro Américo.


6
Indiferente à tristeza
da seca que há no Sertão
a Lua, com mais beleza,
enche de luz a amplidão!

7
Causa-me tédio a verdade
de que tudo é passageiro
e a nossa felicidade
depende mais do dinheiro!



8
A vida é uma vela acesa
e a alma da gente um pavio.
Daí, sempre essa incerteza
de se viver por um fio ...

9
No Norte, de Chico Mendes,
passeia pela floresta
um batalhão de duendes
defendendo o que ainda resta!


10
De Hugo a latinidade,
de Camões, Dante, Cervantes,
nos alimenta a vaidade
de uma nação de gigantes.

11
A cigarra... Uma cidade!
O canto na pitombeira
é como o som da saudade
que nos segue a vida inteira!


12
Sendo o sonho uma esperança,
também chamada ilusão,
faz-nos sempre ser criança
vendo bolhas de sabão ...

13
O certo é que ninguém pode
prever os rumos da sorte:
- A ventania sacode
e arranca a planta mais forte!
(MH=12º lugar em Sete Lagoas-1997)


14
Saudade, um mar de lembrança
na praia do pensamento,
onde a jangada balança
no sopro leve do vento.

15
Melhor ser ave vulgar
e viver em liberdade
que, na gaiola a cantar,
quase a morrer de saudade!


16
Foi o Príncipe Luiz
Otávio, com seus valor,
quem nos deu a diretriz
deste Brasil trovador.

17
Com pirilampo parece
luz de jangada no mar,
quando ora sobe e ora desce,
a "acender" e "apagar" ...


18
Conceito de despedida
que é coisa que mortifica:
- Um pedacinho da vida
de quem vai e de quem fica!

19
Ao ver dos jardins as flores
à meditação me entrego:
" - Como pensa ser as cores
aquele que nasceu cego?!"


20
Em Themis simbolizada,
a Justiça os olhos venda,
para que não seja olhada
a pessoa da contenda!

21
Apenas Amor e Paz
- atentem nesta verdade -
são o binômio capaz
de nos dar felicidade.


22
Recife, entre rio e mar,
com seus ares de Veneza,
é uma cidade sem par,
de nordestina beleza!

23
Lembrança boa é saudade,
que teima sempre em voltar,
mas, tem a fugacidade,
da branca espuma do mar.


24
A terra, tão maltratada,
sempre dá provas de amor:
- À moto-serra e queimada
responde mostrando flor!

25
Mãe Natureza aviltada
por essa gente insensata,
já vai ficando pelada,
sem a roupagem da mata.


26
Terminou em muito murro
o "Congresso pela Paz":
- Com argumento de burro,
mundo melhor não se faz!

27
Não é só fauna, floresta
e riqueza mineral:
- A nossa Amazônia atesta
da Pátria a força moral!

28
Suspiros as trovas são,
de desgosto, de alegria
e alívio do coração,
nas asas da fantasia!

29
Não há coisa mais bonita
que a de se ver, multicor,
pairando no ar, tão catita,
o colibri junto à flor!

30
Sendo o sonho uma esperança,
também chamada ilusão,
faz-nos, sempre, ser criança,
vendo bolhas de sabão...
Menção Honrosa
I Concurso Brumadinho

31
Na previsão do destino,
o sortilégio, em segredo:
"Tu serás sempre menino
à procura de um brinquedo...
(M.Especial Fortaleza 2000)

32
São sementes de bons frutos
aqueles ensinamentos
que, na infância, são produtos
de pais e mestres atentos.
(M. Especial Curitiba 2003)


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Valdeci Camelo

Valdeci Camelo foi uma poetisa que fundou e foi a primeira Presidente da UBT Recife. Não tenho dados biográficos dela mas, segundo informações do site do poeta Clério José Borges de Sant'Anna, no artigo "Trovismo - Movimento Literário Brasileiro", em 1982 ela compareceu ao 2º Seminário do CTC - Clube dos Trovadores Capixabas, formando uma delegação juntamente com Diva Veloso e J. Cabral Sobrinho, de Olinda.


Do coração de quem ama,
tudo chega na medida.
É o amor que nos proclama
as coisas boas da vida.
VALDECI CAMELO



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AUGUSTO  FERNANDES  VIANNA  nasceu em Recife/PE no dia 14 de maio de 1908. Médico renomado e professor. Publicou várias obras, entre elas: "Extemporâneos" (poemas), Relógio de Areia (prosa) e "Bolhas de Sabão" (trovas).  Publicou também, em 1977, o "Anuário - Coletâneas de Trovas Brasileiras".
       Faleceu em 13 de dezembro de 1991.

Quando se foi meu amor,
fez-se o mundo tão escuro,
que, perdido em minha dor,
ainda hoje me procuro!...

Não culpes o mundo cão
que cresce todos os dias,
sem certeza de que não
és o cão que repudias.

Vagalume intermitente
acendendo o lampião,
quem te segredou que a gente
traz trevas no coração?

Fonte - Site Falando de Trova

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ALDELMAR TAVARES DA SILVA CAVALCANTI nasceu em Recife em 16 de fevereiro de 1888. Faleceu no Rio de Janeiro em 20 de junho de 1963. Formou-se em Direito em 1910 no Recife. Em 1907, com apenas 19 anos, publicou seu primeiro livro intitulado "Descantes" (trovas) em parceria com mais quatro outros poetas. Pouco antes de sua morte a Livraria São José lançou suas "Poesias Completas" e a Vecchi publicou "100 Trovas de Adelmar Tavares" (Coleção Trovadores Brasileiros). Foi Presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e professor da Faculdade de Direito de Niterói. Em 1926 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Foi considerado "O Rei da Trova".


Algumas de suas Trovas


"Para matar as saudades,
fui ver-te em ânsias, correndo...
- E eu que fui matar saudades,
vim de saudades morrendo..."

"É nossa alma uma criança,
que nunca sabe o que faz,
quer tudo que não alcança,
quando alcança, não quer mais."

"Neste mundo, a certas vidas,
a morte seria um bem,
mas até a própria morte
se esquece delas também."

Pouco me dá que se diga
meu verso fora de moda,
meu verso é apenas cantiga
de cirandas, e de roda...   

Ora a Vida!... Deixe-a andar,
não queiras da vida ter
o que ela não possa dar,
nem tu possas merecer..

Eu vi o rio chorando,
quando te foste banhar,
por não poder , te banhando,
dar-te um abraço, e parar... 

Ó linda trova perfeita,      
que nos dá tanto prazer,    
tão fácil - depois de feita, 
tão difícil de fazer.            
 


Fontes - 1. Livro "Trovadores do Brasil" - 1º volume, de Aparício Fernandes. Editora Minerva, Rio de Janeiro, Guanabara, 1966, p. 09.
2. Cem Trovas de Adelmar Tavares, Coleção Trovadores Brasileiros, volume 5, organização Luiz Otávio e J. G. de Araújo Jorge. Ed. Vecchi. 

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CONSTÂNCIA LYRA DE CARVALHO nasceu em Escada - PE. Era filha de José Augusto Pereira de Souza e Joaquina Pereira de Lyra Souza. Na adolescência publicou poesias e trovas nas revistas "A Rua Nova" e "Renascência" de Recife. Casou-se em 1927, dedicando-se inteiramente à vida do lar. Em 1938, abalada com a morte da filha, voltou a fazer poesias. Em 1951, com o falecimento do esposo, procurou outra vez a poesia, como lenitivo para suas tristezas. Publicou dois livros de poesias: "Reminiscência" em 1963 e "Páginas de um crepúsculo" em 1967. Seu terceiro livro, ficou no prelo. Era exclusivamente sobre Trovas. Intitulava-se "Sensitiva". Participava ativamente da vida da vida literária pernambucana como poetisa, trovadora e declamadora. Não temos nenhuma informação sobre seu paradeiro, mas pelos cálculos, ela certamente já não está mais entre nós. Quando casou, em 1927 devia ter, no mínimo, 15 anos. Isso faz com que ela, em 2022 tivesse 110 anos, o que é bastante improvável.


A abelha tira da flor
o mel da manutenção.
Assim também um amor
alimenta o coração.

O amor que nos dá ventura,
e é todo o nosso desvelo,
também às vezes tortura
tornando-se um pesadelo.

Não sei como, não atino
em dizer porque te amei...
Cruzaste no meu destino
e nunca mais sosseguei.

A menina dos meus olhos
em lágrimas se afogou
ao ferir-se nos escolhos
que a vida lhe tributou!

Eduquei meu coração
à maneira que eu bem quis.
- Assim tive a solução
de poder viver feliz!


Fonte - Livro "Trovadores do Brasil" - 3º volume, de Aparício Fernandes. Editora Minerva, Rio de Janeiro, Guanabara, 1970, p. 78.

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NICOLINO LIMONGI nasceu em Recife em 06 de maio de 1916. Entre os nove e onze anos esteve na Itália, terra dos seus pais, para estudar e dominar a língua. Em 1934 ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade do Recife, diplomando-se em 1940. Publicou em 1961 um livro de poesia com o título de "Mensagem de Natal". Era membro do Clube de Poesia do Recife, onde ocupou a Presidência no ano de 1970. Escrevia tanto em prosa como em verso.

Triste de quem nesta vida,
pela estrada de onde vem,
nem uma vez deu guarida
às esperanças de alguém.

A subir nunca te atravas,
se a altura os olhos te veda:
quanto mais alto te elevas,
maior será tua queda.

Nada tanto desengana,
nem amesquinha também,
quanto a injusta que emana
de quem a gente quer bem.

Uma criança sorrindo,
áurea mensagem nos traz:
é como um livro se abrindo
numa alvorada de paz!

Disfarça a mágoa, sorrindo,
e evitas o dissabor
de ver o mundo exibindo
o riso da tua dor.


Fonte - Livro "Trovadores do Brasil" - 3º volume, de Aparício Fernandes. Editora Minerva, Rio de Janeiro, Guanabara, 1970, p. 229.

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