Nova entrevista com Luiz Otávio

 Hoje consegui mais uma entrevista com o Príncipe dos Trovadores, Luiz Otávio publicada por Nilton Manoel de Andrade Teixeira no seu livro Didática da Trova. Nesta Luiz Otávio faz comentários que se destacam, como o que viria, posteriormente, levar à criação da Juventrova na gestão de Domitilla Borges Beltrame.

A entrevista consta no primeiro anexo do livro com o título "Entrevista" e inicia com o esclarecimento a seguir do autor do livro.

Via Correios, entrevistamos Luiz Otávio, a 10 de junho de 1975,com perguntas obtiveram as seguintes respostas. Ei-las: 

(P= pergunta, R= resposta) 

 P.: Luiz Otávio, qual a principal do Movimento Trovadoresco na literatura Brasileira? 

R.: O principal valor, eu diria melhor, uma das características fundamentais do Movimento Trovadoresco é a sua espontaneidade. Nasceu, brotou espontaneamente como uma planta. Até mesmo os que o plantaram não se aperceberam bem, no momento, o que estavam fazendo, E,aí, este Movimento difere, essencialmente, de tantos outros movimentos, sub-movimentos e hipo-sub-movimentos que tem surgido e, as vezes, morrem antes do nascedouro. Alguns pretensos “gênios” se reúnem (não muitos), fazem manifestos, deitam plataformas, conseguem suplementos literários, querem destruir tudo que encontram (é outro “cacoete” destes pseudos-gênios), e no fim, a “coisa” dura muito pouco... Eles mesmos não se entendem... 

Citar exemplos? São inúmeros. Mas não há tempo, nem espaço. Já o nosso Movimento Trovadoresco nasceu, aos poucos, sem saber que viria a ser um Movimento. Espontâneo, genuinamente brasileiro, popular, moderno (porque comunicativo, rápido e direto) e que, em poucos anos, cresceu muito e continua a crescer. Tudo isto, reunido e dito em poucas palavras demonstram a importância do Movimento Trovadoresco. Diria mais que ele, tal como aquele anúncio de óleo, excede os limites da literatura brasileira. Tem sido também um movimento social e turístico. Para explicar tudo isto só mesmo um Ensaio ou uma crônica... 





 P.: O trabalho que a UBT vem realizando todos estes anos, sabemos que está marcando a história da literatura nacional do futuro; Perguntamos: por que os tratados literários atuais teimam em deixar de fora toda a grandiosidade deste trabalho? 

 R.: A pergunta é simples e boa, mas a resposta não é fácil e seria complexa. Respondo com perguntas: Quem sabe se certos professores e críticos andam pouco afastados da realidade e não se aperceberam que há, em suas portas, um Movimento poético vivo, palpitante, popular:? Quem sabe se eles têm certo 

receio ou constrangimento para reconhecer e divulgar esta verdade? Quem sabe se tem faltado a nós, os dirigentes ou mais antigos do Movimento, tempo, oportunidade, para ir às escolas, faculdades e suplementos e dizer, bem alto: 

“Minha gente, há um movimento de Trovadores que poetas, povo, associações, comércio, indústria, já tomaram bastante conhecimento... Chegou a vez de vocês saberem que nós existimos. Mas, meu caro Nilton, já há uma reação. Já há professores que nos convidam a falar sobre trovas em seus colégios ou faculdades, outros que, em seus livros, já dedicam páginas aos trovadores e outros ainda, como um professor sacerdote, que nos últimos Jogos Florais de Friburgo, num belíssimo sermão, reclamava justamente isto que é o tema de sua pergunta: de algumas esferas literárias ou professores ainda ignorarem o valor da Trova e do Movimento Trovadoresco. 

 P.: Qual a preocupação do Movimento Trovadoresco, atualmente, em relação à classe estudantil universitária? O que os trovadores brasileiros tencionam fazer para demonstrar a originalidade do “Movimento” que é nacional e não importado como o Romantismo, Parnasianismo,Simbolismo, etc? 

 R.: A pergunta é comprida e profunda. Verei se resumo a resposta. Já temos procurado levar a Trova não só à esfera Universitária mas, também aos outros graus anteriores. Já fizemos palestras e concursos nos meios ginasiais, colegiais e universitários, em muitas cidades que evitarei de citar os nomes para não omitir algumas. Quanto à preocupação de demonstrar isto ou aquilo, de atacar (mesmo o que nos atacam), de mostrar as nossas qualidades ou virtudes, não tem havido. Nós temos vencido porque realmente é bela a nossa rosa e porque temos trabalhado muito, com amor e autenticidade, a fim de que ela sobreviva e se multiplique. Se outros cultivam ou camélias ou cravos de defunto ou couve-flor, não 

temos nada com isto... Podem até cultivar flores de papel, importadas... Que nos deixem em paz cultivando a nossa rosa... 

 P.: Na antiguidade os Jogos Florais foram lançados para propiciar o não desaparecimento da produção poética, no Brasil, segundo o Sr. mesmo já escreveu, nossos concursos de Trovas e Jogos Florais apareceram com a finalidade preponderante de selecionar democraticamente as produções literárias brasileiras. 

Sendo experimentado, promovendo, participando, concorrendo, publicando tratados e livros com suas produções trovadorescas, por que ainda no Brasil têm-se um imenso déficit de publicações por editoras de nomeadas? 

 R.: Há anos notei e escrevi a seguinte curiosidade ou paradoxo: Na Idade Média, quando caiu a Poesia Trovadoresca, tiveram a idéia dos Jogos Florais, em Toulouse, em 1322, para revitalizá-la. No Brasil, só após a Poesia dos Trovadores ter alcançado certo nível ou progresso é que senti condições propícias para lançar em 1960 os Primeiros Jogos Florais de Nova Friburgo. Sim, na verdade tenho afirmado que estes concursos foram um meio útil e democrático para lançar grandes trovadores no Brasil. Quanto aos livros, acho que tem havido muitas publicações. Se o interesse das editoras é pequeno, tem acontecido o mesmo com outros gêneros mais vendáveis como o romance e o conto. 

 P.: Quantos anos temos de Movimento Trovadoresco? Ou o que melhor propiciou a corrente literária trovadoresca? 

 R.: Quanto à primeira parte, se aceitarmos como um marco de nosso Movimento, como li na apresentação desta entrevista, a publicação do livro “Meus Irmãos, os Trovadores”, temos, então, que, no ano próximo completaremos 20 anos de Movimento. É claro que, antes disto, já eram feitas trovas e alguns livros eram publicados. Mas, trata-se aqui de marcar um ponto de partida para algo que significasse aglutinação, propaganda maior, estudo mais profundo,etc. Embora sendo o autor do livro e não o autor da proposta de transforma-lo como um marco, acho - modéstia à parte - perfeitamente válida a idéia. 

 Quanto ao que melhor propiciou esta corrente, além do que já ficou dito, de autenticidade, popularidade, atualidade, etc., e das finalidades culturais, sociais e turísticas, queria ainda apontar algo que considero de muita importância e que resumo: depois do Movimento Modernista, passado o fogo inicial, parecia que a poesia tinha morrido. Tornara-se tão difícil, tão hermética, que apenas alguns iniciados ou alguns pretensos entendidos, apreciavam e entendiam esta Poesia. 

Depois vieram grupos e subgrupos. Cada vez mais discussões,cada vez mais originalidade e menos entendimento. O público ia cada vez ficando desconfiado e retraído... Se, em todas as antigas Escolas – dos Clássicos, Românticos, Parnasianos, Simbolistas, houve sempre grandes intérpretes do sentimento popular, - do Povo das várias camadas sociais – com o Movimento Modernista tudo mudou. Somente as elites intelectualizadas, ou as pseudo-elites, compreendiam aquelas mensagens poéticas herméticas e muitas vezes sem melodia, sem ritmo e sem sentido... Vieram os trovadores e, modesta mas autenticamente, deram aquele grito da fábula: “O Rei está nu!” Apenas, ao invés de dar este grito diretamente e de entrar em debate, começaram a fazer trovas, aperfeiçoar esta singela forma da poesia popular, a realizar concursos e festas, a fundar associações, a pronunciar palestras, a escrever artigos e livros, enfim, a Trova veio mostrar, com êxito, que a Poesia não morrera, veio restabelecer aquele elo destruído entre o Povo e o Poeta. 

 P.: O título de “Magnífico Trovador” com o qual o Sr. foi agraciado após tantos anos de idealismo, de dedicação, contribuindo para a integração nacional através da poesia, sabemos que é internacional através de convênio com entidades culturais de Portugal; fale-nos sobre isto. 

 R.: Acredito que haja uma pequena confusão do caro repórter. O título com o qual fui agraciado devido ao meu trabalho em Prol da Trova e dos Trovadores foi o de “ Príncipe dos Trovadores Brasileiros” - por um Congresso Nacional de Trovadores, em 1.960, em São Paulo. O outro – o de” Magnífico” dos Jogos Florais de Nova Friburgo (RJ) é um título muito honroso e difícil. Outros dez trovadores o obtiveram nestes 15 anos. Não tem nada com o trabalho pela Trova ou pela classe. 

Está relacionado a uma vitória, três anos consecutivos, entre os dez primeiros lugares, nos Jogos Florais. Mas repito: é um título muito honroso e difícil. Os dez que o obtiveram – e por ética permita tirar o meu nome – demonstraram talento, inspiração, fibra e, também, um pouco de sorte. Constituem uma verdadeira seleção de trovadores, vitoriosos em várias cidades do Brasil. Para atingir este título não adiantam posição social, financeira, tentativa de protecionismo ou de corrupção. 

Nem simpatias ou troca de gentilezas como acontece na eleição de muitas academias... Com os “Magníficos” entraram em julgamento apenas as trovas, escondidas num pseudônimo. E chegaram quatro mil ou cinco mil ou mais trovas! E é preciso repetir a vitória três anos consecutivos! 

 A presente entrevista, datada de 10/6/1975, Santos (SP) tem a assinatura de Luiz Otávio. 





NILTON MANOEL DE ANDRADE TEIXEIRA

in Didática da Trova p.42-47

TEIXEIRA, NILTON M. de A.




Comentários

Glicério Montes disse…
Que preciosidade! Dá gosto ler. Emocionante!

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