Trovas de Pernambuco do passado

Trovas de Pernambuco do passado

Esta é uma publicação que complementa a postagem do dia 09 de janeiro de 2020. No passado, Luiz Otávio e J. G. de Araújo Jorge organizaram e publicaram uma Coleção intitulada "Trovadores Brasileiros" composta de 15 volumes, cada um dedicado a um tema e/ou Trovador. É a seguinte a relação destes temas:

01 - CEM TROVAS DE BELMIRO BRAGA
 
02 - CEM TROVAS DE LILINHA FERNANDES  
 
03 - CEM TROVAS DE BATISTA NUNES
 
04 - CEM TROVAS DE AMOR
  
05 -  CEM TROVAS DE ADELMAR TAVARES

06 - CEM TROVAS DE WALDEMAR PEQUENO

07 - CEM TROVAS DE SAUDADE
 
08 - CEM TROVAS POPULARES

09 -CEM TROVAS DE ANIS MURAD
 
10 - CEM TROVAS DE BASTOS TIGRE
 
11 - CEM TROVAS DE ESPERANÇA

12 - CEM TROVAS DE ARCHIMINO LAPAGESSE
 
13 - CEM TROVAS DE CIÚME

14 -  CEM TROVAS DE SOARES DA CUNHA

15 -  CEM TROVAS DE ADAUTO GONDIM

Encontram-se todas publicadas no site Falando de Trovas, mantido pelo insigne Trovador José Ouverney. Este é o décimo volume.

Coleção “Trovadores Brasileiros”

Organização de Luiz Otávio e J. G. de Araújo Jorge 

(extraído do site Falando de Trova)


 




Manoel Bastos Tigre

(1882-1957)


* * *

As Festas da Poesia e os

I JOGOS FLORAIS DE POUSO ALEGRE


Multiplicam-se por todo o Brasil as festas literárias, as feiras de livros, os torneios de trevas. E Friburgo, já hoje poderá acrescentar um novo titulo aos muitos  que  tem:  pode  ser  chamada  de “ a cidade  dos  trovadores ”! Ficou sendo a pioneira deste “bandeirismo” poético e cultural que avassala o país.

Já se realizaram os III Jogos Florais. Cada um deles com um Concurso de trovas, e um tema diferente. “Amor, Saudade e Ciúme”, foram os três temas iniciais,  e  deste  modo,  nós, os  idealizadores  e  organizadores  dos  Jogos Florais  quisemos  homenagear a velha lendária Fonte do Suspiro, fonte que abastecia  de  água  a primitiva  vila,  e  que,  com  o tempo, passou a ser um recanto preferido pelos namorados.                                                                    

Na sua pedra se encontram gravadas as Palavras, “Amor, Saudade, Ciúme”. A  velha  praça  do  Suspiro, com sua fonte, está , hoje remodelada. Puseram abaixo  a  grande  touceira  de  bambus que  abrigava, com  suas sombras, os apaixonados.  E  com  os  loteamentos e as obras de urbanização, parece que vai  escasseando  a  água  da  fonte, que, segundo a lenda, possuía o dom de fazer se “apaixonar pela cidade e voltar a ela” todo aquele que a provasse.

As festas dos Jogos Florais, já agora, vão ganhando a força de uma tradição. Dela  participam  as  autoridades, o povo em geral, a Academia Friburguense de  Letras,  os  jornalistas, e  um  sem número  de escritores e convidados que visitam Friburgo durante a sua realização. Isto  sem  falarmos, está claro, nos  poetas e trovadores que são a alma das festividades.                                           

Um das pontos altos desse acontecimento é a escolha da “Musa dos Jogos Florais ”, saudada  em  versos  pelos  trovadores  presentes,  e  coroada e homenageada numa grande festa.

Eis  um  exemplo que muitas  cidades  do Brasil deverão imitar, ampliando cada vez mais esse surto de poesia. Deste modo, vamos interessando cada vez mais o povo em nossos  problemas literários e  ajudando-o a afinar sua sensibilidade.                                                                                   

Ainda agora, se constatou, com a publicação de uma série de volumes de trovas da “ Coleção Trovas e Trovadores ”, editada pela Livraria Freitas Bastos,  que  dos  dez  poetas  d a coleção, pelo menos seis iniciaram suas atividades literárias ou se preocuparam com esse gênero de poesia, depois que participaram dos Jogos Florais de Friburgo.                                             

São Fidélis, cidade norte-fluminense, prepara-se para realizar em Julho mais um  Festival  de  Poesia,  o  deste  ano,  baseado  também  num  Concurso de Trovas, e com a escolha de uma “Musa dos Trovadores”.                                 

Campos, já apresentou ao povo, dois Salões de Trovas, e pretende repetir, anualmente, o sucesso dos anteriores.                                                             

Teresópolis prepara com grande entusiasmo o lançamento do seu I Festival Brasileiro de Literatura, para comemorar as festas de aniversário do Município.                                                                 

Comemorando aliás, o 60.° aniversário da criação do Município, Cruzeiro, em S. Paulo, realizou um festival de poesia, com um concurso de trovas e a publicação de uma Antologia de autores cruzeirenses.                               

O Centro Português de Santos, que edita uma boa revista, já realizou com o tema “Amizade” um concurso de trovas, também para comemorar o seu aniversário de fundação.                                            

Salvador,  tendo  á  frente  Rodolfo  Cavalcanti,  presidente  do  Grêmio Brasileiro de Trovadores, periodicamente organiza concursos de trovas, através do órgão dos trovadores baianos: “O Trovador”.   

Em Vitória, Espírito Santo,  houve no ano passado o I Festival do Livro, nos moldes do Festival Brasileiro do Escritor, promoção anual da U.B.E. (União Brasileira dos Escritores), no Rio.                    

Juiz de Fora, Sorocaba, e muitas outras cidades, cogitam da realização de festivais de poesia, concursos e feiras de livros.                                           

Ótimo. Que a idéia se alastre e germine por todos os recantos do Brasil.   

* * *

Pouso  Alegre ( Minas ) realizou  em  1961 os  seus  I Jogos  Florais,  numa iniciativa da Arcádia de Pouso Alegre. O concurso de trovas foi patrocinado pelo jornal carioca “A Noite”, com o tema “Esperança”.                                

Os vencedores dos Jogos de Pouso Alegre, são, na sua maioria, trovadores já  conhecidos, e  que obtiveram  honrosas colocações nos Jogos Florais de Fribur go.                                                                  

José Maria Machado de Araujo, o vencedor é português, radicado no Brasil, e  participou dos I Jogos Florais de Friburgo, obtendo  Menções  Honrosas.

No  Concurso  de  Pouso  Alegre  José Maria  conseguiu,  não  apenas duas colocações entre  os  dez  primeiros ( 1.º  e  5.° lugares ),  mas ainda, três Menções Honrosas, com trovas classificadas em 12.°, 16.° e 19.º lugares.

E  dizer-se que José Maria começou a fazer trovas  quando  se interessou, em participar,  pelos  Jogos  Florais de  Friburgo ! Hoje, já  tem  obra publicada, o volume n.º 5 “Cantigas que a Vida ensina”, da “Coleção Trovas e trovadores”.

Aparício  Fernandes,  que  obteve  o  2.º  lugar  nos  Jogos Florais de Pouso Alegre, é muito moço ainda. Estreou com seu livro de trovas “Sonho Azul”, que  tive  a  satisfação  de  prefaciar,  e  possui  agora o “Cantigas do Amor Sincero”, volume n.° 2, da “Coleção Trovas e Trovadores”. Produz, além do mais, para  a  rádio  Globo,  dois  programas de Trovas: um, às 10:05 horas, apresentado por Luiz de Carvalho, e outro, às 15:05, na voz e Mário Luiz.     

Walter Waeny Junior, que agora passou a se assinar apenas Walter Waeny, é  um  trovador  vitorioso.  Conquistou  o  8.°  lugar  nos  I  Jogos Florais de Friburgo,  o  3.°  lugar  nos  I  Jogos  Florais  da  Prefeitura  de  Santos, e o 4.º e 20.º lugares nos Jogos Florais de Pouso Alegre.  Walter Waeny, que é santista, possui vários livros de poesia e de trovas, publicados.

Archimimo  Lapagesse  é um magnífico trovador que se consagrou vice-campeão dos I Jogos Florais de Friburgo, conseguiu o 8.º lugar nos jogos de  Pouso  Alegre.  Archimino  Lapagesse terá suas trovas publicadas na “Coleção Trovadores Brasileiros”, no volume n.º 12.                                  

Orlando Brito, é um dos mais inspirados trovadores brasileiros da atualidade Paulista,  residindo  na  capital  do Estado, obteve uma Menção Honrosa nos I Jogos Florais de Friburgo, o 6.° lugar nos II Jogos Florais de Friburgo, e o 7.º nos  Jogos  de  Pouso  Alegre. Suas  trovas  constituem hoje o  volume 8  da “Coleção Trovas e Trovadores”, e se intitula “Cantigas de Ninar Tristeza”.

Colbert Rangel Coelho, carioca, é outro trovador vitorioso. Conseguiu o 3.º e 4.º lugares,  respectivamente nos I e II Jogos Florais de Friburgo, e o 9.º lugar nos Jogos de Pouso Alegre. Seu livro intitula-se: “Cantigas da Madrugada”, e é o volume n.º 3, da “Coleção Trovas e Trovadores”.

Denancy  Melo  Anomal, campista, revelou-se também, concorrendo aos torneios de trovas de Campos e Friburgo. Foi uma das Menções Honrosas dos II Jogos Florais de Friburgo, e obteve o 10.º lugar nos Jogos de Pouso Alegre.                                                                                                                 

Entre  os  dez  primeiros  classificados nos Jogos Florais de Pouso Alegre, há, ainda, Maria José Barcelos Cerqueira, do Rio, e Alfredo de Castro, de Pouso Alegre, sobre os quais não disponho de maiores elementos, mas que venceram com belas trovas.                                                                            

Entre as  Menções  Honrosas  destaco  ainda  o  nome de Jorge Murad, poeta e  humorista,  irmão  de  Anis  Murad, ( vencedor dos II Jogos Florais de Friburgo, e cujas trovas foram incluídas nesta coleção, volume 3), e que se classificou com uma trova tendo por assunto o nordeste, apesar de ele viver no Rio.  

Uma linda trova aliás.


* * *


Não fiz citações das trovas, propositadamente, porque os leitores as encontrarão todas no presente volume.                                                                                          

Eu e Luiz Otavio, que somos os organizadores desta coleção, resolvemos incluir.na mesma as seleções de trovas dos diversos jogos florais que se realizarem  no  Brasil,  sempre  que,  pelo  volume  e qualidade, as trovas justificarem a feitura de um volume.                                                              

Foi o caso dos I Jogos Florais de Pouso Alegre. Como os leitores constatarão, as 100 trovas deste volume, bem merecem a sua fixação num livro, para que tenham vida mais longa, quem sabe lá, - se a eternidade – na memória e na consagração populares.

J. G. DE ARAUJO JORGE

in

Coleção “Trovadores Brasileiros”

Organização de Luiz Otávio e J.G. de Araujo Jorge

Editora Vecchi – 1959

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As 100 Trovas do livro ainda não serão publicadas todas. Por agora só as 30 primeiras. Posteriormente serão, gradativamente, publicadas as demais.

100 TROVAS de Manoel Bastos Tigre 

(1882-1957)


* * *



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(Trovas de
Bastos Tigre)



n.01
Saudade, palavra doce,
que traduz tanto amargor!
Saudade é como se fosse
espinho cheirando a flor.




n.02
Aliança! algema divina,
a mais doce das prisões;
uma prisão pequenina
que encerra dois corações.



n.03
Quando Deus fez Portugal
lá plantou com sua mão
na terra; vinha e trigal
e o fado no coração.




n.04
Pela ponte lá da praia
vieste cá me visitar;
Deus queira que a ponte caia
quando quiseres voltar.



n.05
Ama a tua arte. Por ela
faze o bem: ama e perdoa.
A bondade é sempre bela,
a beleza é sempre boa.




n.06
Maldigo quem te ache feia,
quem te ache bela também.
Quero mal a quem te odeia
e odeio a quem te quer bem.



n .07
Eu versos os mais diversos
já fiz: muita gente os lê...
Mas "poesia" há nos versos
que eu fiz pensando em você.




n.08
Isto de amar considero
que ser amado requer.
E é por isso que eu não quero
querer a quem não me quer.



n.09
Mente o peito que suspira?
O beijo é só falsidade?
Bendigamos a mentira
se ela é melhor que a verdade.




n.10
No amor não há diferença:
nós mentimos, vós mentis...
E, se um diz o que não pensa,
outro o que pensa não diz.



n.11
Você diz que é cego o amor...
Como se engana você!
Fecha os olhos o impostor
para fingir que não vê.




n.12
Com tuas frias maneiras
eu não me incomodo, pois,
embora tu não me queiras,
meu amor vale por dois.



n.13
Meu amor enche-me a vida
e eu vivo feliz assim.
Basta que gostes, querida,
de ser querida por mim.




n.14
Se estou, meu amor, contigo,
tão feliz me considero
que quero mas não consigo
dizer-te o bem que te quero.



n.15
Quando em meus braços te aperto,
satisfaço o meu desejo:
de mim te sinto tão perto,
tão perto que não te vejo.





n.16
Para se amar é preciso,
de todo, o juízo perder;
ter-se a um tempo, amor e juízo
isto é que não pode ser.

.


n.17
Um filósofo de peso
é desta sentença o autor:
o beijo é fósforo aceso
na palha seca do amor.




n.18
Tu com todo o teu ardor
não estarás enganada?
Talvez confunda amor
com o prazer de ser amada.



n.19
Morena de olhos castanhos,
teu encanto é a minha pena;
quem dera que olhos estranhos
te achassem feia, morena!




n.20
Saudade, meiga Saudade
filha do amor e da ausência,
és a nossa mocidade,
durante toda a existência.



n.21
Namorados. Para ouvi-los
faço, ao lado esforços vãos,
Como dois mudos, tranqüilos
falam somente com as mãos.




n.22
Se a mulher sincera fosse,
sincera como o homem quer,
era uma vez... acabou-se
todo o encanto da mulher.



n.23
Seu dinheiro o homem, cioso,
não confia a qualquer,
mas a honra de esposo
deixa nas mãos da mulher.




n.24
Quem canta seu mal espanta,
diz o provérbio ilusório.
Você, rapaz, quando canta
espanta, sim... o auditório.



n.25
Depois de uma vida airada,
ao céu quis ir sem licença.
São Pedro pede-lhe a entrada -
e o morto, arrogante: - Imprensa!




n.26
Trocar idéias contigo ?
É possível, mas escuta:
quero ver, primeiro, o artigo
que ofereces à permuta.



n.27
Amigos - todos os temos
"ao nosso inteiro dispor",
mas até que precisemos
de algum pequeno favor.




n.28
Quando nós, discretamente
ficamos conosco a sós,
é que ouvimos quanta gente
chora e ri dentro de nós.



n.29
A mulher que nos rejeita,
firme, em recusas formais,
se, enfim, nosso amor aceita
não quer que ele acabe mais.




n.30
Neste mundo organizado
de encontro à lei natural,
tudo que é bom é pecado
e o que é gostoso faz mal.



in Coleção “Trovadores Brasileiros” 
Organização de Luiz Otávio e J.G. de Araujo Jorge 
Editora Vecchi – 1959

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