DECÁLOGO DE METRIFICAÇÃO
A seguir você encontra um belíssimo trabalho do Príncipe da Trova e fundador da União Brasileira dos Trovadores - UBT, Luiz Otávio. Desfrute-o!
DECÁLOGO DE METRIFICAÇÃO
1)
- As sílabas são contadas até a última tônica do verso.
2)
- As pontuações não impedem as junções de sílabas.
3)
- Não se deve fazer o aumento de uma sílaba métrica nos encontros consonantais
disjuntos, (ou seja: não usar "suarabacti").
4)
- Uma vogal fraca faz junção com a vogal fraca ou forte inicial da palavra
seguinte.
§
único - Aceitam-se exceções a esta regra no sentido de evitar a formação de
sons duros e desagradáveis.
Exemplo:
"cuja ventura/única consiste".
5)
- Uma vogal forte, pode ou não, fazer junção com vogal fraca da palavra
seguinte, no entanto jamais deve fazê-la com vogal forte.
§
único - Nos casos em que se prefira a junção "forte + fraca", deve-se
ter sempre o cuidado de evitar sons desagradáveis ("mais que tu/ardo")
ou formar novas palavras ("via ao invés de "vi a...").
6)
- Pode haver a junção de três vogais numa sílaba métrica.
§
1º - Não deve haver mais de uma vogal forte.
§
2º - No caso em que a vogal forte não esteja colocada entre as vogais fracas e
sim em 1* e 3* lugar, para que seja correta a junção, as duas vogais fracas
devem juntar-se por crase ou por elisão, e não por sinalefa (ditongação).
Assim, estará certo: "é a ambição que nos prende e nos maltrata", e
não se pode unir as três vogais de "e a / íntima palavra derradeira".
§
3º - Deve ser usada com cuidado a junção de mais de três vogais, embora haja
casos corretos de quatro e até de cinco vogais.
7)
- Os ditongos aceitam as prejunções com vogais fracas ("E eu"). As postjunções
são aceitas somente nos ditongos crescentes LP(encontros instáveis) ("a
distância infinita") e são repelidas nos ditongos decrescentes. ("Eu
sou/a que no mundo anda perdida").
§
único - Há casos de uso facultativo de prejunção de vogais forte aos ditongos,
quando essas vogais são as mesmas dos iniciais dos ditongos e não forem as
tônicas das palavras. (Aceita-se: "Será auspiciosa" e será
inaceitável: "Terá/auto nos pontos".
8)
- Nos encontros vocálicos ascendentes (formados por vogais os semivogais átonas
seguidas de vogais ou semi-vogais tônicas), a sinerese é de uso facultativo.
("ci-ú- me" ou "ciú-me", etc.).
§
único - Há neste grupo, excepcionalmente, encontros vocálicos que não aceitam a
sinérese. Geralmente, são formados pela vogal "a"seguida das vogais
"a", ou "e" ou "o" (como em: Sa/ara, a/éreo, a/orta,
etc.) ou, alguns casos, do mesma vogal "a" seguida das semi-vogais
"i" ou "u" tônicas, como em: "Para/íso,
"ba/ú", etc.
9)
- Nos encontros vocálicos descendentes (formados por vogais ou semivogais
tônicas seguidas de vogais ou semi-vogais átonas) não se aceita a sinérese
("tua", "lua", "frio", "rio" etc., sim,
"tu/a", "su/a","fri/o", "ri/o", etc.
§
único - Em algumas regiões do Brasil é usada a sinérese nestes encontros
vocálicos, com base na fonética local. No entanto, não será aceita na
Metrificação, em benefício da uniformidade, uma vez que na maioria dos Estados
é feita a separação dessas vogais.
10)
- 0 uso da aférese ("inda", etc), síncope ("pra", etc),
apócopes ("mui", e de ectilípse ("com a", "o",
"as", 'os") é facultativo.
§
1º - A junção de "com" mais palavras iniciadas com vogais átonas é facultativo.
§
1º - A junção de "com" mais palavras iniciadas com vogais átonas é correta
mas pouco usado. Acompanhando a maioria dos poetas, sempre que possível, deve
ser evitada. ("com amor") etc.
§
2º - A junção de "com" mais palavras iniciadas com vogais tônica não
será aceita. ("com esta" etc.).
§
3º - A junção de fonemas anasalados "am", "im", etc., com
vogais átonas ou tônicas não será aceita. ("formaram" / idéias",
"cantaram /hinos" etc.).
§
4º - E preciso cuidado com o uso de aféreses, síncop es e apócopes que, por
estarem em desuso ou por formarem, geralmente, sons desagradáveis, irão ferir a
sensibilidade e os ouvidos dos leitores e dos ouvintes.
GLOSSÁRIO
- Por ordem alfabética, para melhor compreensão do Decálogo de Metrificação.
Aférese
- supressão de sílabas ou fonema inicial ("/inda").
Apócope
- supressão de sílaba ou fonema final ("mui"//").
Crase
- fusão de duas vogais numa só ("a alma"; "e este" etc.).
Dierese
- transformação de um ditongo num hiato ("sa/u-da-de").
Ditongo
- fusão de uma vogal + semivogal, ou vice-versa; na mesma sílaba.
("sai", " falei", "Niterói", etc.).
Ditongo
crescente - semivogal + vogal (pátria, gênio, diabo, etc.).
Ditongo
decrescente - vogal + semivogal (pão,meu, dourado, etc.).
Ectipe
- supressão de um fonema nasal final para possibilitar a crase ou ditongação
(sinérese) com a vogal inicial da palavra seguinte. ("com o",
"com amor", etc.).
Elisão
– supressão da vogal átona no final de uma palavra.
("Ela estava" =
"Elistava").
Encontros
consonantais - duas consoantes unidas:
a) inseparáveis - ("bl" - bloco; "fl" - "flor", etc)
ou "grupos consonantais",
b) separáveis - ("gn" - ignóbil; "bs" -Observar) ou
"encontros consonantais disjuntos".
Hiato
- uma sílaba terminada, por vogal-base seguida de outra iniciada também por
vogal-base. ("re/eleger", ca/olho, a/éreo, etc.) (Rocha Lima); é o
encontro de duas vogais pronunciadas em dois impulsos distintos, formando
sílabas diferentes. (sa/ara, podi/a, sa/úde, etc.)
(Cegalla).
Encontros
vocálicos ascendentes - designação de Luiz Otávio - é o encontro de duas vogais
ou semivogais, pronunciadas separadamente, sendo a primeira fraca e a segunda
forte. (ci/ú-me, vi/o-la, po/e-ta, cru- el-da-de, etc.).
Encontros
vocálicos descendentes - designação de Luiz Otávio - é o encontro de duas
vogais ou semivogais, pronunciadas separadamente,
Junção
a primeira forte e segunda fraca. ("di/a", "tu/a",
"ri/o" , etc.).
Junção
- designação de Luiz Otávio - no sentido generalizado para traduzir a união de
sílabas métricas, Abrange pois, os diferentes processos de diminuição de
sílabas poéticas. (comumente e erradamente empregada pela maioria dos poetas
como elisão). Ver no Glossáuro, os vários processos ou métodos para diminuir as
sílabas métricas ou processos de fazer a junção de sílabas: crase, elisão,
sinalefa, sinérese, alferese, síncope, apócope e ectipse.
Postjunção
- designação de Luiz Otávio - junção posterior a uma sílaba ou palavra.
Prejunção
- designação de Luiz Otávio - junção anterior a uma sílaba ou palavra.
Semivogais
- são os fonemas "i" e "u", quando ao lado de uma vogal formam
uma sílaba com elo. (Assim em: "pai", "mau", o
"i" e o 'u" funcionam com valor de consoante, em
"lu-ta", vi-da", funcionam com função de vogal).
Sílaba
ou métrica ou poética - são sílabas nos versos, (contagem diferente das sílabas
gramaticais).
Sinalefa
- fusão ou junção de vogais ou semivogais, entre duas palavras, formando
ditongo (Este amor" = "Estiamor").
Síncope
- supressão de fonema ou sílaba no meio da palavra ("p/ra").
Sinérese
- transformação de um hiato em ditongo, na mesma palavra. ("ci-úme"
em ciú-me".
Suarabacti
- "aumento de uma sílaba métrica, pela pronúncia das vogais de apoio, nos
encontros consonantais disjuntos". (Luiz Otávio) "i-gui-no-rar".
Tônica
- sílaba forte, acentuada. Vogais - "Fonemas sonoros, que se produzem pelo
livre escapamento do ar pela boca e se distinguem entre si por seu timbre
característico",
(Rocha Lima).
Vogal
forte ou fraca - a vogal átona ou acentuada (tônica) da palavra ou verso.
APLICAÇÃO DAS DEZ REGRAS DA METRIFICAÇÃO
TROVAS DEMONSTRATIVAS
Estas
trovas foram feitas para demonstrar os diferentes casos de aplicações das dez
regras da metrificação. Têm, pois, finalidade didática. Devemos observar em
cada uma, pela numeração, aplicação correspondente. O conteúdo não tem relação
com as regras, mas tão somente com as formas das trovas. O fundo está
relacionado com as mensagens generalizadas sobre os estudos de Metrificação.
Portanto, julguem-nas como utilidade didática e como curiosidade, e não corno valor
artístico.
(Luiz
Otávio - Santos, 26/03/1974).
1ª
regra - (última tônica)
Poderá a
força elétrica
de um sábio
computador
ensinar
contagem métrica
mas não faz
um trovador...
2ª
regra - (pontuação)
Pensa em
calma! Evita errar,
Injusto é se
nos reprovas,
pois não
queremos mudar
o modo de
fazer trovas.
3ª
regra - (encontros consonantal)
Você pode
acreditar,
ter a pura
convicção
que a ninguém
vou obrigar
a ter a minha
opinião...
4ª
regra - (vogal fraca + fraca)
Podes crer és
muito injusto
e estás longe
da verdade,
pois na trova
a todo custo
defendo a
espontaneidade...
5ª
regra - (vogal forte+ fraca)
É uma
história bem correta
em tudo o
ensino é preciso,
no entanto,
só o poeta
quer ser
gênio de improviso...
6ª
regra - (junção de três vogais)
Esta é uma
regra indiscreta,
convenções,
mal amparadas,
induzem muito
poeta
a convicções
enraizadas.
7ª
regra - (ditongos)
Para medir
nossos versos,
se o ouvido
fosse o juiz,
em nossos
metros diversos
ninguém poria
o nariz...
8ª
regra - (encontros vocálicos ascendentes)
Na trova,
soneto ou poema,
em toda parte
do mundo
se a Forma é
o seu diadema,
a sua alma é
sempre o fundo!
9ª
regra - (encontros vocálicos descendentes)
As dúvidas
são pequenas
não sejas tão
pessimista,
dá-me a tua
ajuda, apenas,
e será bela a
conquista.
10ª
regra - (licenças: aféreses, síncopes, apócopes, ectlipses).
É mui// feio
criticar(apócope)
/inda que
seja um direito (aférese)
pra ser
justo, aulas vem dar (síncope)
com o teu
plano sem defeito... (ectlípse)
Frase
mnemônica para decorar as dez regras de metrificação:
"Tendo
paciência e Estudo você versejará tecnicamente direito
encontrando estética e lirismo."
(T = tônica; p = pontuação; e = encontros consonantais; v = vogal
fraca; v = vogal forte; t = três vogais; d = ditongos; e = encontros
vocólicos ascendentes; e = encontros vocálicos descendentes; l =
licenças poéticas).
Luiz Otávio
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